Sonhos Quebrados - CONTO

Em uma tarde com muito calor, Pedro foi comprar um jornal, na esquina do prédio onde trabalhava, quando ele viu, sentada na praça Alencastro, uma moça linda, uma beleza incomum, ela tinha a pele morena, olhos verdes, que pareciam duas pedras de esmeralda, lábios rosados e delicados, como se nunca tivessem sido tocados, porém estava com uma aparencia cansada e triste. Foi até ela sem pensar no que poderia acontecer.

- Boa tarde! Você está bem? - Foi como se as palavras saíssem da sua boca. Ela olhou para ele assustada e confusa.

- Não moço. Eu venho de Santo Antonio do Leverger, é aqui perto, vim tentar a vida em Cuiabá, pois achava que aqui, na cidade grande, tudo seria mais fácil. Até agora, só desgraça aconteceu comigo, fui assaltada, estou sem dinheiro, sem roupas e sem casa, pois perdi o endereço da minha madrinha, que mora aqui.

Seus olhos já estavam começando a se encher de lágrimas.

- Não fique assim. Posso lhe ajudar com a hospedagem, você pode ficar na minha casa – ela lançou um olhar de desconfiança - relaxa que eu não moro sozinho, moro com a minha irmã, ela deve ter a sua idade, aproveitamos pra ver se ela tem alguma roupa para lhe emprestar. Enquanto isso, eu vou procurando o nome da tua madrinha pela internet e na agenda telefônica. O que você acha?

- Porque você vai me ajudar?

- Porque você parece ser uma pessoa boa, e pessoas assim merecem ser ajudada.

Ela abriu aquele sorriso e acompanhou ele.

Depois de um ano morando na mesma casa, os dois decidiram se casar. Uma cerimônia simples, mais muito bonita e divertida.

Pedro amava Luana como nunca pensou que poderia amar alguém, e talvez isso tenha deixado ele diferente do que ela conheceu, pois depois de casados, ele se tornou ciumento, fazendo com que ela passassem mais tempo em casa, por medo do marido fazer alguma besteira.

Um exemplo do ciúme dele foi no dia em que Luana decidiu acompanhar Pedro até o bar do seu Juca, estava tudo indo bem, até o filho do seu Juca elogiar Luana, dizendo que era muito bonita. Pedro não se agüentou e queria bater no garoto. Seu Juca expulsou Pedro do bar, e Luana inconformada com a atitude do marido, pediu desculpa. No caminho, Pedro não falou nada, quando chegou em casa, parecia que nada havia acontecido.

Quando fizeram dois anos juntos, Luana decidiu fazer uma surpresa para Pedro, e foi até o bar do seu Juca comprar carne e ingredientes para fazer um jantar e mostrar para ele que não precisava ter ciúmes dela, pois ela o amava cada vez mais, principalmente agora que estava grávida.

Comprou tudo o que ele gostava, tanta coisa que precisou de ajuda, e o filho do seu Juca decidiu levar as compras. Ela ficou apreensiva, mais logo se acalmou, pois o marido só chegaria bem mais tarde.

Pedro decidiu sair mais cedo do serviço, para fazer uma surpresa para a esposa, pois nunca ia se esquecer do dia mais importante da sua vida: o dia no qual a viu pela primeira vez, parecia tão indefesa. Comprou flores e agendou num restaurante uma mesa, pois queria que tudo fosse perfeito.

Chegando em casa, viu um homem conversando com Luana na cozinha, e logo reparou que era ele, o filho do seu Juca. Os dois riam e se olhavam como se tramassem algo. Pedro não sabia o que fazer, só conseguia pensar em quanto tempo sua mulher o estava traindo. Foi até o bar do seu Juca, tentar esfriar a cabeça, e pensar se todos da vizinhança já sabiam que ele era corno. Ficou muito tempo no bar, e resolveu comprar um facão, pois lá não vendia armas de fogo, estava decidido a matar os dois, pois se sentia um idiota.

Quando chegou em casa, observou que alguém estava deitado na rede. Ele não poderia acreditar que Luana deixou ele dormir num lugar sagrado para os dois, onde eles se “conheceram profundamente” pela primeira vez.

Não teve duvidas, andou devagar e sem olhar, enfio a faca no meio da rede, e repetiu isso algumas vezes, e quando decidiu olhar, para ver seu triunfo diante do rapaz, ele teve uma surpresa. Quem estava na rede não era o garoto, mais sim seu pai, que tinha vindo visitar. Ficou parado, como se tivesse em estado de choque, vendo seu pai morrer. Quando percebeu, ele já havia falecido, sua raiva aumento ainda mais. Saiu gritando o nome de Luana, até que ela respondeu que estava no Rio. Foi até ela com a mão toda ensangüentada.

Luana olhou com uma cara de espanto, e quando chegou perto do marido, ele enfiou a faca na barriga. Ela estava agonizando, mais decidiu perguntar:

- Por que?

- Porque eu vi você com o filho do seu Juca, você estava me traindo...

- Eu nunca pensei em te trair, ele veio apenas me ajudar com a surpresa que eu pensava em fazer para você. Eu te peço: salve seu filho.

- Que filho?

Não se ouviu mais respostas, ela estava morta em seus braços. Pedro estava inconsolado, pois não acreditava no que ouvia: um filho. Era tudo o que os dois desejavam e agora a pessoa que ele mais amou estava em seus braços com aquilo que ele mais desejava, que era um filho. Tudo por causa de seu ciúmes exagerados e de suas atitudes impensáveis.

Não sabia oque fazer, a dor parecia cada vez mais aumentar, era como se algo estivesse lhe sufocando.

O filho do seu Juca apareceu, tinha ouvido a gritaria e corrido para ajudar. Viu homem morto na rede, e saiu correndo a procura de Luana. Foi quando escutou um grito no rio. Quando chegou, não acreditava no que seus olhos estavam presenciando: ela estava morta.

Sua amiga e colega, morta na beira de um rio. A raiva tomou conta de seu corpo e sua mente, e quando olhou para o lado, viu Pedro, com as mãos cheias de sangue e uma faca.

- Seu porco, como pode matar Sua esposa. – então ele foi para cima de Pedro, que não fez nada, era como se estivesse morto; e estava, sua alma estava morta. - Não gastarei meu tempo com você, vou te mandar para a cadeia, para apodrecer lá e pensar no que fez.

Então Pedro se levantou, lentamente, segurou a faca mais firma na mão, seu olhar estava perdido. O filho do seu Juca apenas acompanhou a sua reação, ressentindo que ele fizesse mais alguma loucura.

Se mais pensar, Pedro decidiu acabar com a própria vida!


* Eveline Bezerra

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